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Rui Soares Costa formou-se em Psicologia Social, seguindo posteriormente a sua formação académica em neurociências sociais e cognitivas, tendo, contudo, sempre manifestado interesse pelas Artes Visuais, que o levaram a fazer o Curso de Pintura no Ar.Co, em Lisboa. Não se julgue, porém, que estes dois territórios, estão, por um lado, em campos opostos do pensamento, basta acompanhar os inúmeros projectos de investigação que cruzam Ciência e Tecnologia com a Arte, e, por outro lado, que eles são tão díspares no pensamento e na maneira de Rui Soares Costa compreender o mundo. Estão intimamente relacionados, no sentido em que, como o próprio assume, são formas de transmitir e gerar conhecimento que pode ser, como no caso da Ciência, mais objectivo e cartesiano, ou, como na Arte, mais do campo da subjectividade e das sensações, sendo transversal um certo sentido filosófico.

O trabalho artístico de Rui Soares Costa, iniciado de forma mais sistemática e autoral em 2013, tem-se caracterizado pela exploração das especificidades e, até porventura, das idiossincrasias de materiais menos clássicos e elitistas como açúcares ou vernizes correntes, numa atitude também ela ideológica, aplicados em placas de contraplacado de grandes dimensões. Tornam-se objectos, senão escultóricos, seguramente tridimensionais, com uma forte presença de texturas e que extravasam o dogmatismo do Desenho como a representação de uma imagem através de linhas feitas num plano. Ao mesmo tempo tenta integrar na própria obra artística a presença do corpo e as suas variantes biorítmicas, como seja uma linha da vida desenhada a caneta, ou a manipulação do maçarico. Os materiais, o contexto e o comportamento fisiológico são, assim, partes integrantes da obra e do processo, e reflectem-se na relação que o próprio espectador estabelece com a obra de arte, numa espécie de jogo performativo. 

Com esta Winter Series, Rui Soares Costa volta a sair de uma certa zona de conforto e a sua curiosidade experimental levou-o a explorar a intervenção do fogo sobre a madeira, as variantes da sua combustão, e essa ténue linha entre a destruição de um material e a criação de um objecto estético. As linhas, o desenho melhor dizendo é feito, não através do seu instrumento mais convencional como o lápis ou o pastel de óleo, mas sim recorrendo ao fogo que, se por um, lado cria as linhas, por outro intervém directamente no suporte, chegando a transformá-lo como parte do objecto. Esta é a sua nova “zona-limite” onde se questionam novas fronteiras de incorporar o gesto, o contexto, a experimentação de outras ferramentas de desenho, numa procura de novas fontes de conhecimento. E na obra de Rui Soares Costa esta é sempre uma variável na equação e um parâmetro determinante nesta experimentação, assumidamente contida: a produção de Conhecimento. 

Ana Matos
Maio 2017
(curator and artistic director at Galeria das Salgadeiras)

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